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Fábio Sousa: “Mudaram-se hábitos. Hoje somos uma freguesia com uma comunidade mais virada para o mundo, para o ambiente e para a sua preservação.”

Eleito Presidente da Junta de Freguesia de Carnide em 2013 viu-se, aos 27 anos, perante o que viria a ser o desafio de uma vida. Fábio Sousa, reconhece que Abril é a base essencial para a postura que hoje tem: proximidade ao cidadão. Aquilo que vai ler é uma conversa com o Presidente da Junta, com o jovem da terra, com o Fábio de Carnide.

Nasceu depois da revolução de Abril, mas conhece-lhe os ideais. Acha que seria possível ter uma postura tão próxima da comunidade sem Abril?

Tenho a certeza que não. Para Carnide é um privilégio sermos uma freguesia de Abril, onde os seus valores e ideais se mantêm ao fim de tantos anos. Aqui continua a existir uma aposta na cultura para todos, na educação valorizando a escola pública, na acção social próxima das pessoas, no envelhecimento activo e com dignidade, na saúde, nos projectos orientados para as crianças e jovens e no apoio às associações e empresas locais…

Acha que fazem falta mais “freguesias de Abril” em Portugal?

Os projectos que se baseiam na defesa da liberdade, na participação das pessoas e na valorização dos territórios são muito necessários, cada vez mais. Por isso, sim. Aqui acreditamos que todos temos uma palavra a dizer e que todos devemos ser chamados a contribuir, a fazer a nossa parte. Colectivamente – juntos – vamos mais longe e é esta forma de ser e estar em Comunidade que nos torna tão diferentes e especiais.  

Foram pilares fundamentais de Abril “Democratizar, Descolonizar e Desenvolver”. Para alguém que não viveu esse tempo, que memórias é que, hoje, tem construídas do período da revolução?

Acabo por ter as memórias que as pessoas que o viveram e o sentiram me vão passando. Um acreditar colectivo muito importante e intenso que se mantém erguido pelas mãos de cada um. A luta incansável das mulheres por uma igualdade de oportunidades e reconhecimento pelo qual, infelizmente, ainda continua a ser preciso batalhar. Ou mesmo a luta pelo direito a uma habitação condigna que está tão presente ainda nos dias que correm, sobretudo em cidades como Lisboa onde há um bullying imobiliário brutal. Mas, regressando aos valores de Abril parece-me que – uma vez mais – não restam dúvidas que são exactamente estas situações que nos permitem continuar a afirmar que é pela luta que lá vamos se queremos efectivamente mudar alguma coisa.

Foi eleito Presidente da Junta de Freguesia em 2013. Que Carnide encontrou nessa altura?

Encontrei uma Carnide muito especial. Fui extremamente bem recebido pelas pessoas e pelos Trabalhadores da Junta de Freguesia. Encontrei uma Carnide mobilizada, motivada, com autoestima e, sobretudo, uma Carnide que se preocupa e se envolve. Foi essa Carnide que “herdei” e é a essa Carnide que quero muito continuar a dar o meu mais sincero e empenhado contributo.

Cresceu na freguesia que agora representa. O que sente ao olhar para a forma como a freguesia tem mudado ao longo do tempo?

Sinto um peso enorme pela responsabilidade que tenho, dado o que ainda é preciso fazer. Claro que há muito trabalho já desenvolvido. Mas o foco principal da nossa equipa é sempre aquilo que ainda falta fazer. Não é nenhuma insatisfação, muito pelo contrário. Aquela expressão que tanto gostamos “Juntos construímos mais e melhor Carnide” é de 2013 e continua nos dias de hoje completamente actual. Esta perspectiva de construir uma Freguesia com a sua comunidade, com os parceiros locais, as empresas e com as pessoas que aqui trabalham é, para nós, a única forma possível para se conseguir superar os inúmeros desafios diários. A Junta de Freguesia tem sido sempre um verdadeiro motor daquilo que aqui se constrói todos os dias…

Existe em Carnide um peso associativo que não se vê noutras freguesias. Como tem sido desenvolver uma freguesia onde as pessoas se continuam a unir por causas?

Esse é um dos nossos grandes objectivos enquanto motor: perceber que todos somos um e que cada um de nós só é feliz se quem estiver à sua volta o for. Perceber que quando uma parte deste elo está em sofrimento, o todo tem de se unir e tentar salvaguardar-se, apoiando-se. E esta é uma freguesia onde as diferenças só nos ajudam a unirmo-nos ainda mais.

Como assim?

Eu, por exemplo, tinha 27 anos quando fui eleito pela primeira vez, em 2013. Houve, a partir daí, pelo menos, uma partilha e discussão de ideias muito interessantes entre uma parte dos eleitos que eram mais jovens ­— e consequentemente pensavam de forma geracionalmente diferente ­— e outra que tinha pessoas com mais idade e, consequentemente, um maior grau de conhecimento das ruas de Carnide e das vidas que nelas existiam.

Como encarou esse conhecimento por parte dos eleitos?

Uma mais-valia, sem dúvida. Carnide é, em si, uma multiplicidade de contextos. Cada bairro tem a sua história e cada território tem as suas especificidades. O conhecimento dos mais velhos – dos que aqui vivem ou trabalham há muitos anos – ajuda-nos bastante.

Além dessa mistura geracional que existe em Carnide, há também num dos elementos fundamentais da freguesia — a Assembleia — uma mistura de cores políticas. Como tem sido ver este cruzamento de ideias e forças políticas?

A Assembleia é extremamente importante e essencial para a freguesia. Desde logo, é a entidade fiscalizadora da acção da Junta e tem cumprido, na íntegra, a sua função. É um órgão que tem feito um trabalho muito importante do ponto de vista do acompanhamento constante dos nossos instrumentos de gestão, apresentando também recomendações e propostas que muito têm melhorado a nossa acção e qualidade de vida de quem aqui vive. Nem sempre estamos de acordo, é um facto, mas no fim do dia estamos todos a lutar pelo bem comum de todos os carnidenses. Sinto que, na maior parte dos momentos fulcrais da freguesia, todos os elementos dos diferentes partidos estão em sintonia com aquela que é, também, a vontade do Executivo da Junta de Freguesia para esta comunidade.

A que sabe construir, todos os dias, uma freguesia como Carnide?

Essa é uma pergunta muito difícil de responder… Há um sentimento diário de missão cumprida. A determinada altura – e resultado da nossa determinação e envolvimento – construir Carnide é um trabalho duro, exigente e cansativo. Só que, mais uma vez, quando vemos os projectos executados, as pessoas – crianças, jovens e idosos – mais felizes e a comunidade com uma melhor qualidade de vida, é muito compensador.

Em 2014 surgiu um processo de Reorganização Administrativa da Cidade de Lisboa. Como foi trabalhar todo esse processo mal chegou à Junta de Freguesia?

Em 2014, o maior desafio foi, sem dúvida, preparar esta casa para um aumento brutal de Trabalhadores e, consequentemente, de competências que até ali eram da Câmara Municipal de Lisboa. Por exemplo, a gestão, limpeza e varredura das ruas, os espaços verdes, o licenciamento de esplanadas e de ocupação do espaço público, os passeios, os parques infantis, os equipamentos desportivos, as escolas, a biblioteca e o mercado. Anteriormente, estava tudo do lado da Câmara. Portanto, preparar esta casa para receber um número gigante de competências e Trabalhadores foi um grande desafio. Não me esqueço: 10 de Março de 2014. Todos os Presidentes das Juntas de Freguesia do município foram celebrar esta descentralização de competências aos Paços do Concelho e eu fui o único que não esteve presente.

Deliberadamente?

Sim. Na minha opinião aquele não era o momento de celebrar nos Paços do Concelho, mas sim de receber os equipamentos, as equipas, as pessoas, os Trabalhadores. Tinha de lhes dar as boas vindas em primeiro lugar e, por isso, quis percorrer todos os equipamentos que tinham sido transferidos para a Junta de Freguesia. Nos dias que se seguiram, a equipa que já fazia parte da Junta teve um papel decisivo. Eles souberam integrar os novos colegas, passar-lhes este nosso ADN de que as pessoas estão sempre em primeiro lugar, ajudaram a criar rotinas de trabalho consistentes, cruzaram muitas vezes experiências e partilharam conhecimentos.

Foi esse o maior desafio que teve enquanto Presidente da Junta de Freguesia de Carnide?

Sim. Muito provavelmente foi um dos maiores. Mas existiram muitos mais. Acho que, agora, está à vista de todos. Tivemos muito trabalho, sem dúvida alguma, mas hoje são notórios os avanços que conseguimos ao nível da higiene urbana, nas escolas, no que diz respeito à reabilitação de equipamentos que nos chegaram muito degradados, com amianto… E depois, claro, um dos avanços mais significativos: a Feira da Luz. Quando a herdámos, em 2014, estava – na minha modesta opinião – completamente morta. Não tinha diversidade ao nível do comércio tradicional, havia limitações a nível cultural e muito pouca estratégia do ponto de vista daquilo que deve ser um projecto de desenvolvimento local… E hoje é o monumento da cultura e do artesanato que tanta gente reconhece, pelo País fora.

Recandidatando-se ou não — não é essa a questão — que freguesia acha que deixa hoje?

Acho que Carnide é, hoje, uma freguesia que se afirmou pela participação das pessoas. É campeã do Orçamento Participativo da Câmara Municipal (falta agora a Câmara implementar um conjunto de projectos que estão em falta), é a primeira eco-freguesia de Lisboa que mantém, continuamente, a bandeira verde ano após ano, mudaram-se hábitos para hoje sermos uma freguesia com uma comunidade mais virada para o mundo, para o ambiente e para a sua preservação. Essencialmente, acho que deixo uma freguesia melhor do que aquela que encontrei. E isso deve-se única e exclusivamente ao facto de este ter sido um trabalho que não foi feito só por mim. Acredito que deixarei por aqui um enorme colectivo (Trabalhadores da Junta, eleitos e a comunidade) que nunca desiste e que transforma sempre as dificuldades em potencialidades.

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