No fim da consoada, quando já as luzes se apagaram, a vontade de partilhar tempo e sorrisos com os que nos são mais próximos mantém-se. No dia 10 de Janeiro, o Pavilhão Desportivo do Bairro Padre Cruz encheu-se daqueles que mais sabedoria guardam.

Rita, moradora no Bairro, é a “chefe” de família que se junta à volta de uma das muitas mesas redondas que neste dia estão pelo Pavilhão. “Venho há pouco mais de três anos, mas é daqueles momentos sobre os quais uma pessoa começa a ansiar logo que chega o Natal”, confessa. Na verdade, o sentimento é partilhado. Mais de quinhentas pessoas estão, todos os anos, presentes no Almoço de Reis, organizado pela Junta de Freguesia. Um momento que, além de marcar o fim do Natal, é sinónimo de partilha: “Há gentes que só vemos aqui, ano após ano. Se não é neste dia que contamos, uns aos outros, as histórias que vivemos neste ano que passou, quando será?”, questiona a moradora, enquanto um senhor lhe toca, a medo, no ombro. “Zé! Há quanto tempo…” e a nossa conversa terminou ali para que a deles começasse. Podiam ser antigos colegas de escola que não se viam há uma vida, parceiros de trabalho de quando ainda não havia redes sociais… Podiam ser tanta coisa, e ainda o são.

É neste dia que se dão reencontros, que se trocam histórias, que se vivem os momentos da vida dos outros, que se abraçam os outros. Um “outro” que nos é tão próximo e que, por demanda da vida, pode já não voltar ao Almoço daqui a um ano. Essa é a energia que se sente neste dia. Vivê-lo como se fosse o último, como se ninguém estivesse a ver. E que esteja… A voz da vocalista da banda “Companhia Limitada” ressoa em cada canto do pavilhão que guarda o centro para a dança. Juntam-se pares, outros tantos trocam-se ali, no meio “da pista” e a tarde avança. No fim, um aplauso preenche todo o espaço. Não há mesa de onde não venha essa energia e para a qual não volte amor. De todos para todos, em cada Dia de Reis.